Se Dourados fosse um hipódromo — e a política, corrida de obstáculos — a vereadora Isa “Cavala” Marcondes teria parado antes da segunda cerca: não por falta de fôlego, mas por excesso de câmera. Convertendo a velha prerrogativa fiscalizatória em “live” de auditório, ela transformou a UBS de Indápolis em estúdio improvisado — e saiu de lá com a sirene da Guarda Municipal substituindo os aplausos virtuais, depois de dar “voz de prisão” a um médico.
A cena, digna de episódio especial da série “Dourados em Chamas”, não se passou no cercadinho de uma reunião de bairro, mas nos bastidores de uma Unidade Básica de Saúde, onde o SUS tenta funcionar apesar dos tropeços e dos improvisos. Isa, empunhando celular, microfone e indignação em tripé, entrou como quem fiscaliza e saiu como quem se complica.
O Sindicato dos Médicos — aparentemente alheio ao carrossel do TikTok — resolveu montar sua própria narrativa: entrou na Justiça com uma Ação Civil Coletiva, acusando a vereadora de usar a saúde pública como cenário de espetáculo. Nos autos, descrevem a prática recorrente de transformar médicos em vilões, pacientes em figurantes e Isa como estrela de um reality show que mistura denúncia com autopromoção.
Na peça, pedem os médicos pedem básico: que a parlamentar desça da montaria, pelo menos quando entrar nas salas de espera, e que guarde o celular antes de expor profissionais, muitos deles já combalidos pela rotina e pela precariedade do sistema.
Na Câmara, onde a lógica é menos ética do que matemática, a primeira tentativa de censura foi rechaçada: 13 votos a 6. O placar revelou duas coisas. Primeiro: que Isa tem cacife entre os pares. Segundo: que há quem prefira uma colega midiática a uma silenciosa e obediente. O espetáculo, afinal, também rende dividendos eleitorais — e likes, muitos likes.
Mas o episódio deixa rastros. Ao confundir o dever de fiscalizar com o impulso de performar, a vereadora arrisca tropeçar no fio tênue entre a política e o populismo digital. Entre o zelo público e a sede por cliques. E nessa equação, o cavalo de batalha vira, sem aviso prévio, mula empacada.
No embate de Indápolis, os ingredientes estavam todos lá: discussão ríspida, acusações mútuas, boletins de ocorrência, intervenção da Guarda Municipal e um roteiro pronto para o Instagram. Mas, enquanto Isa postava, os bastidores se agitavam — e não foi exatamente de aplauso.
O enredo, por ora, aponta para dois desfechos possíveis: ou a vereadora recua e adota o tom que o cargo exige, ou insiste na equitação midiática e termina tropeçando nos próprios estribos jurídicos.
Seja qual for o desfecho, uma coisa é certa: Isa “Cavala” Marcondes já aprendeu que entre a garupa da popularidade e a sela da responsabilidade há uma longa trilha — cheia de buracos, espinhos e… advogados.